segunda-feira, 23 de maio de 2016

Dos prazeres


Vivo em uma relação confusa com o Xico Sá e isso me deixa deveras agoniada. Sempre que o vejo em um desses vídeos soltos na internet, ou até mesmo na porcaria daquele programa, que jura falar sobre sexo sem tabu, algo entra em eterna ebulição dentro de mim. Ou quando depois de muita relutância abro mão do meu asco – de passagem –, e acabo devorando tudo que ele escreveu no curto espaço de tempo que o meu orgulho besta deixou.
A verdade é que o Xico é um puto. E os putos bolem comigo de forma que os santos e recatados nunca vão conseguir. São os piores tipos de macho… Argh. Macho. Chego a sentir vontade de escarrar em cima desse nome tão safado e comum. Que bosta, heim, Xico?!
O Xico é só mais um macho puto que eu reluto em não amar, mesmo amando. Mesmo sabendo que os putos são os piores, pois os putos sabem jogar e os putos não cansam quando não conseguem conquistar. Uma vez um macho bem puto me disse com fogo nos olhos, escorado na beira da pia dele, depois de um almoço com duas cervejas e um Belchior deixando tudo menos leve; sabe, nega, Lacan diz que tudo que você odeia é o que você é. Por isso que você me gosta assim, de um jeito agressivo e manso. Não tem coisa mais linda que uma mulher lutando contra sua própria natureza. Eu não presto e sei disso. E sei também que você sabe disso melhor que ninguém. Que foi nega? Tu sabe o tamanho dessa verdade e sabe que ela não cabe dentro das tuas esculhambações. Eu sou um puto. Bora lá. Diga. Mas tu me gosta porque tu sabe o que tu é e tu sabe o quanto te ama por dentro e por fora dos teus joguinhos de identificação, repulsa e carinho dentro das nossas maravilhosas trepadas.

Paff! Destruiu toda a minha máscara de papel machê. Me deu banho de saliva feito os gatos no cio e me deixou de quatro, como o Xico Sá me deixa. Tapou minha boca com um sopro e em meus olhos botou o fogo dos infernos. E eu, claro, da forma mais desdenhosa possível, coloquei fogo no meu cigarro, sentei com as pernas cruzadas, olhei de lado e soltei o meu sorriso mais puto.

É deveras angustiante e prazerosa a minha confusão entre amar e não amar os piores machos, os putos, os sem recomendações e os sem vergonha. De certa forma eu os entendo, até porque meu sorriso mais puto não nega a raiz. Por trás desse sorriso sempre tem o aviso numa placa gigante: Cuidado! Depois do sorriso a putaria rola solta e daí em diante não respondo por mim. O único problema numa relação com um macho puto, sendo da mesma natureza que a dele, é a insistência em nunca largar o osso e em nunca querer perder o jogo. O prazer de jogar com alguém a altura, queixo com queixo, peito estufado e sorriso matador, não é maior que o prazer de vencer um macho puto. Mas, para que isso aconteça, batalhas e mais batalhas são jogadas, ambos com todos os escudos do mundo erguidos sobre o peito, e, claro, com toda a putaria molhada que se possa existir entre um par de coxas cor de canela – a cor mais bela desse Sertão quente virado no inferno. Isso, para não mencionar todos os riscos de sair ferida feito rolinha baleada.
O rebuceteio é feio quando dois putos se amam numa cama pequena, numa dessas esquinas escuras ou na varanda de um prédio antigo, no centro de alguma dessas cidades maravilhosas daqui da Paraíba. Como diz Xico Sá, não há coisa mais linda – nesse caso –, que um macho puto ficando de boca aberta, salivando, e, encantado com a liberdade de um sorriso puto. Principalmente nesses tempos de cassação das carteirinhas da liberdade alheia, junto com o sindicato da não-liberdade sexual das mulheres livres e atuantes no campo da construção das mulheres do fim do mundo. A paudurescência da vaidade de ser amada por alguém cuja a putaria é maior ou igual à sua é o que há de mais belo numa manhã sem barricadas erguidas.
Então, viva a putaria dos putos mais putos desse mundinho cão!



Ah, quase ia esquecendo. Xico, tu é o macho mais puto do mundo. 



Abç

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